Deu a louca no mundo (do áudio)!!!

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Sentado aqui no sofá nesse day off e pensando em mais um post, ouvi em alto e bom som na tv a frase “esse medicamento é contraindicado em caso de dengue”, em uma velocidade tão insana que o locutor poderia ter dado uma receita de bolo de fubá que passaria pelo texto original!!!… Que loucura…

Loucura… É o que não falta no mundo do áudio… Quando recebo perguntas do tipo “quantos plug-ins essa mesa comporta”, sem que por um simples segundo o empolgado engenheiro (nascido e criado na “pendrive generation”) ao menos tomasse conhecimento da concepção do equipamento, ou mesmo “essa mesa não presta, porque não inserta equalizador gráfico no canal”, começo a querer abrir meu restaurante antes da hora galera!!!

É tanta asneira que se escuta por aí que fica difícil falar de todas elas… Tudo anda de cabeça pra baixo!!!… Por exemplo, o Fantasma do Alinhamento… Meu parceiro de muitas, o Wilsão “Kblo” Gonçalves que o diga… Em dezenas de situações o primeiro “alô” no microfone principal, provocou até o estouro da boiada atrás dos bretes, com o processador em +10 de HF, + 6 nos MIDS, + 8 no LO e + 12, sim “+ 12” nos SUBS…

Da energia então, só vou repetir em duas linhas a história do cara do gerador correndo atrás de mim com um caibro, quando falei que o meu era com abacaxi e pouco gelo, ou mesmo a roda gigante do parquinho piscando a cada “bumbada”!!!…

Depois que as mordomias do mundo digital permitiram que as produções, generosamente, roubassem o tempo que teríamos para lapidar nosso trabalho on stage e o transformassem numa logística absurda (chega as 18:00 pra tocas as 21:00 hs, quando não é pior esse tempo de montagem), parece que a coisa piorou…

Apresentador da cidade quer in-ear para falar “e agora com vcs ….”, inúmeros PAs “line errei” que falam mais para trás do que para o público (ok, economizam duas mixes de side, assim como as telas catastrofônicas tb nos brindam com esse pequeno detalhe…hahahahaha), todos os canais do evento ligados na sua cena pq só tem uma mesa (é digital mesmo, não é???), line check com o Psy e seu “Gangnam Style” bombando palco… Olha… Ta feia a coisa!!!

Ou o CARA lá de cima nos ajuda a retomar o controle da situação ou a “Trattoria do Farat” vai ser inaugurada muito antes do que eu imaginei!!!…

Um brinde aos que olham primeiro para o artístico antes de procurar saber qual a versão do Pro Tools disponível (é claro que eu não esqueceria os estúdios), aos que jamais vão perguntar que gênero musical o “fagote” canta numa eventual sessão de estúdio ou no live, e que um dia o plugin “Ear Replace” seja mais utilizado do que presets de fábrica para que jamais “a masterização arrume”…

Ok, eu prometo que em outro post falaremos sobre o plugin “Band Replace”, pois iriamos misturar as bolas aqui!!! …

Bom, “por hoje é só pessoal !!!…

Até o próximo!!!

Gratidão eterna aos meus padrinhos!!!

Padrinhos Page B&W

Peço licença aos leitores e seguidores desse blog para falar de algumas pessoas especiais, sem as quais eu não seria absolutamente nada no mundo do áudio, e estaria até hoje sentado na Praça da Bandeira em Caçapava ouvindo os passarinhos no meu horário de almoço na construtora na qual eu era boy!!!…

Já que eu escrevi “boy” no parágrafo acima, o primeiro deles é o Márcio Boy (em Caçapava), ou melhor, Márcio de Sousa, mano do Maurício. Depois que fui demitido da construtora ao tentar explicar para o patrão, um querido (um mix de Christopher Cross & Mike Tyson na “máquina da mosca”), quem era John Lord e o Deep Purple em dia de concorrência na Prefeitura, fui acolhido de maneira paternal pelo Márcio… Tocando bateria na sua banda eu tive o grande portão aberto por ele quando comecei a operar um mixer Quasar com um Revox A700, um Revox B77 e um Akay 4000 DS nos estúdios da Maurício de Sousa Produções, além de tocar em dezenas de trilhas e alguns discos da Turma da Mônica. O tal Paulo “Kibe” foi apelido carinhoso pelo qual Maurício se referia ao boy de construtora metido a besta que ensaiava seus passos no áudio dentro do seu estúdio!!!…

O próximo passo foi dado quando fui chamado para uma entrevista no Vice-Versa em 1979 com um cara chamado Luiz Botelho, depois que todos os grandes estúdios de gravação da época bateram as portas na minha cara… Eu nunca imaginaria que conseguiria contar tantas mentiras para um gênio do áudio na mesma tarde, e o que isso iria influenciar minha disposição em virar um profissional de áudio! Da noite pro dia eu sairia do “nada” e cairia naquele ambiente mágico do Vice, trabalhando como assistente de estúdio do Marcus Vinícius, Wilson Gonçalves, Renato Viola, do Ricardo “Franja” Carvalheira, Nelsinho Dantas (um dos grandes responsáveis pela minha carreira, e que Deus o tenha num lugar muito merecido!!!) e outros ícones do mesmo calibre… Caras como esses não existem em nenhum curso profissionalizante do planeta e, realmente faziam um quase “insignificante” principiante como eu pensar duas vezes antes de dizer que era um profissional de áudio!!! Fora tudo isso ainda vinha o lado artístico, por fui diretamente do convívio alegre com os passarinhos da Praça da Bandeira (aquela lá do início do texto, em Caçapava) para o dia a dia com Rogério Duprat, Sá & Guarabyra, Armando Ferrante, Cezinha das Mercês, Chiquinho de Moraes e muitos outros monstrinhos da criação musical…

Entre todos esses malucos ainda tinha o Fernando Ribeiro pilotando os contatos e produções… O Fernando é personagem muito especial na história do Vice… Um estressado extremamente iluminado e divertido, que eu tenho absoluta certeza que foi um dos caras que mais torceu por esse “officeboy de construtora metido a besta” aqui, e sei muito bem, torce até hoje, onde quer que ele esteja… Grande músico e compositor foi amigo, irmão, paizão e muito mais!!!

Queria falar mais de “Sir” Rogério Duprat… 26 de Outubro de 2006, foi o dia em que a música ficou extremamente mais pobre… Com a passagem do Rogério pra outra dimensão fica um buraco enorme na história da criatividade musical no planeta… Só quem conviveu com esse pequeno grande gênio sabe o que ele representa para todos nós envolvidos com a música e o show bizz… Extremamente importante e decisivo na minha carreira, o Rogério está para a música assim como o Vinicão está para o áudio na minha cabeça, e vou ter isso guardado no coração até o dia em que a gente se encontrar lá por cima… A minha primeira sessão de gravação oficial no Vice-Versa foi com o Rogério… Lá estava eu, um ex-boy de contrutora frente a frente com o gênio no estúdio!!! Lembro-me muito bem do frio na barriga quando chamei o Rogério pra ouvir a mix na técnica… A frase de foi essa: “Farat, nunca ouvi um som tão lindo desse estúdio B, só que eu não estou vendendo bateria, garoto… Esse jingle é para uma empresa de adubos, por favor, remixe isso com mais critério para o que a peça foi feita!!!!”… hahaha. Agradeço a Deus por ter um padrinho desse porte na minha vida profissional… A humildade do Rogério era extremamente proporcional a sua genialidade e nossas carreiras não seriam as mesmas sem os seus toques e conselhos… Queria apenas registrar isso aqui no blog… Quem sou eu pra falar da sua música e dos seus arranjos insanos e sensacionais… Eles têm vida própria e ficarão eternamente nos nossos ouvidos e na nossa história… Não importa em qual parte do céu você esteja brilhando meu ídolo, por aqui sempre será a nossa estrela… Fica na Paz do CARA aí de cima… Que ele te receba logo no portão e te coloque em um lugar mais do que merecido!!!…Nos vemos por aí algumdia!!!… Todo o amor do teu fã & amigo Farat!!!

E pra finalizar, tão importante quanto uma boa referência técnica lá no início da estrada, é uma boa companhia artística e criativa como base (falo muito sobre isso aos que começam a jornada nos dias de hoje, onde na maioria das vezes olha-se primeiro para as maravilhas do Pro Tools do que pra dentro do estúdio…). Lá no Vice-Versa tive a sorte de conviver e trabalhar com dois dos meus grandes ídolos na música: Sá & Guarabyra. O que eu vi (e ouvi) sair daqueles violõezinhos, pedaços de papel e fitinhas cassete foi uma verdadeira aula de criatividade e bom gosto!!! Junto com aquela paciência toda com a minha “ansiedade de principiante” sempre vinha um toque ou outro, que me abriram muito os olhos e ouvidos muito mais rápido sobre o que era aquele mundinho do áudio e o que era fazer parte dele. E as bandas então??? A Ponte Aérea (Nonato, Constant, Pedrão e Beto), Paulinho Calazans, Alaor Neves, Ruriá Duprat, Sérgio Kaffa, Pedrão (do Som Nosso), Rui Motta, entre outros… socorro!!! Era uma festa qualquer show dos caras, numa garantia absoluta que quase todos os engenheiros de som que não estivessem na estrada ou no estúdio circulariam pelo backstage. Da música de Sá & Guarabyra não preciso falar nada (cada um coloca o que desejar na sua Cdteca e azar de quem não ouve Sá & Guarabyra), mas eu gostaria de deixar explícito nessa matéria que são dois caras que eu aprendi a “amar de paixão” e vou levar isso pro resto da vida!!! Sabe aqueles amigos que quando você encontra e abraça passa um filminho muito bom das coisas???… Então… E olha que lá se vão mais de trinta anos…

Thanks maninhos, e muito obrigado por tudo até aqui!!!

Acho que é isso… Espero nunca ter decepcionado nenhum de vcs nessa longa estrada… E vou tentar continuar assim, ok???

Até o próximo galera!!!