Ao meu Anjo da Guarda…

No dia 19 de Novembro de 1979 eu finalmente consegui meu emprego num estúdio de ponta, o Vice-Versa… Naquele dia eu sabia que era o início de uma longa batalha conseguir um lugar ao Sol no mundo do áudio, e com certeza aquele era o lugar certo, cercado das pessoas certas, que depositaram em mim a confiança que eu tanto precisava naquela hora… Um deles era extremamente companheiro nesse período; o Nelsinho Castro Dantas!!!

Eu ralava feito louco no estúdio A com o Vinicão e o Wilson “Relax” Gonçalves e me desdobrava com o Nelsinho no estúdio B… Para resumir um pouco, eu comecei a infernizar a vida do Nelsinho pra poder fazer uns bicos à noite no B, porque de alguma forma eu já conseguia pelos menos fazer umas tomadas básicas de gravação e a empolgação era enorme pra poder sentar na mesa e gravar meus discos e jingles…

O Dantas tinha uma paciência de santo comigo, e com o maior carinho e serenidade, me pediu pra ter só um pouco de paciência porque depois do Carnaval que se aproximava ele me daria a chance que eu tanto queria, e que eu não perturbasse mais a sua orelha…rsrsrsrs!!!. Tudo era pra depois da p… do Carnaval!!!

Meu maninho devia ser um espírito extremamente evoluído e ja sabia que algo ia acontecer, pois na Terça-Feira de Carnaval, mais precisamente dia 19 de Fevereiro de 1980, um trágico acidente em São Paulo o levou pra mais perto do “CARA” lá de cima… Fiquei chapado, arrasado!!!… Sabe aquele lance do Senna com as duas mãos na Williams??? Era isso o “depois do carnaval”????…

Bom, foi uma questão de dias para que a proposta de assumir o estúdio B da Vice e continuar o trabalho do Nelsinho me foi apresentada… Até hoje ele é o meu anjo da guarda, e sei que de onde ele estiver estará olhando por mim e pela minha profissão…

Gostaria de pedir licença a todos, Alice (mãe), Nelson (pai), a irmã Maria Cristina, a Bete, Carmen, amigos, etc, para transcrever a mensagem psicografada pelo Médium Francisco Candido Xavier na noite de 31 de Janeiro de 1981 em Reunião Pública no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, MG…

Te amo cara, eu te devo isso, no Blog e na vida…valeu por tudo até aqui!!!… Nos vemos!!!

“Querida mãezinha Alice e querido Papai Nelson, peço que me abençoem…

Esse é um momento que vivo solicitando sem esperar. No entanto, o instante está para o meu anseio e devo escrever pelo modo que se me faça possível. Não seio o que se passa. Quero manter-me sereno, mas será possível o reencontro assim, entre o filho e os pais que ama tanto, sem que as lágrimas atinjam o papel antes das palavras? Penso que, em meu caso, isso não seria possível.

Lembro-me de todas as evidências que precederam a separação. Depois dos acontecimentos amargos, concluí que a chama da morte possui muitos meios de se faze sentir… Às vezes, está num jardim que a gente visita para entretenimento, num trecho de caminho em que duas dificuldades se encontram, na merenda que se usufrui num passeio, na companhia de um amigo de cujos passos estejamos compartilhando… Para mim, lembre-se a querida Mamãe, estava no tilintar do telefone… Era um convite para uma festa de corações amigos. Não consegui recusar-me. Lembrei-me que havia recebido palavra de meu pai especialmente no carro para servir. Acedi e fui ao encontro das jovens que apelavam para mim. Não compreendi a secreta intuição de que me ausentava para assunto grave porque beijei a Mamãe como se fosse fazer uma viagem longa. Ela própria se admirou e pousou em mim o olhar interrogativo.

Depois foi a noite, os minutos de paz e intimidade, e em seguida, a chuva torrencial. Retomando o veículo, notei que deveríamos adotar o melhor caminho, seguindo vagarosamente. Não me faltou cuidado. Afinal, não me achava a sós. Em minha companhia estavam a Cleide, a Bete e a Carmem… Seguíamos com calma, no entanto as águas se acumulavam nos recantos. Tive receio de que as correntes alcançassem o motor e diligenciei o quanto pude para atenuar os obstáculos. Mas, em meio à marcha que se tornava difícil, um ônibus apareceu e vibrou de modo estranho na massa líquida… Aquele impacto de força nos deslocou o carro amigo e segundo, atirando-o para o rio… O Tamanduateí havia desaparecido no dilúvio que submergia o piso da ponte próxima e fomos desviados para o corpo do rio, sem que nos apercebêssemos disso…

Recordo o espanto de Elisabete, ao descobrir que a nossa condução tentava planar inutilmente… Ela foi a primeira a alertar-nos quanto ao perigo e dispôs-se a nadar, auxiliando-nos. Junto da irmã, começaram a saída, no entanto, Cleide e eu tivemos a esperança de que o carro conseguisse sobrenadar e demoramo-nos um tanto… Foi o bastante para distanciar-nos das companheiras e de mãos entrelaçadas compreendemos que nos restava unicamente uma rendição á vontade de Deus. Não sei se consegui rezar, embora minha intenção incluía semelhante dever. Sei apenas que apoiados no veículo que submergiu, sentimo-nos ambos sufocados, sem qualquer possibilidade de reação… Até aí conto o que nos sucedeu…

Depois foi a exaustão e com a exaustão um sono invencível… Quanto tempo estive nesse estado de inconsciência não consigo imaginar… Um momento surgiu em que me apossei do próprio raciocínio… Achava-me fatigado, respirando dificilmente qual se estivesse sob o domínio de um edema desconhecido para mim… Tanta vida me assinalava o pensamento que era impossível crer na morte. A idéia de um posto de emergência para socorro imediato me veio a cabeça, mas isso se desfez quando a senhora de semblante suave, que me velava, junto ao leito alvo se confessou a mim, afirmando-me ser a Vovó Ernestina, enquanto que outra criatura amiga me aplicava remédios balsamisantes, esclarecia que me achava diante de nossa Ana, zeladora e parenta do coração, a quem devo tanto…

A percepção de que me achava em outra vida não foi pra mim uma tempestade de revolta, mas foi um aguaceiro de lágrimas. Queria vê-los, pais queridos, e rever nossa Maria Cristina, tentando informar-me igualmente sobre o destino das companheiras que me haviam partilhado a difícil experiência… Entretanto, com que voz haveria eu de manter o diálogo desejado? Chorei a feição do menino, desterrado de casa e, depois à medida que me conscientizava quanto à nova situação via e ouvia as indagações e os gestos da Mamãe, do Papai, da Vovó Inês, de Maria Cristina e de todo os nossos… Não preciso alongar-me sobre as emoções que me dominaram. Penso que somente agora consigo liberar as derradeiras inquietações em lhes transmitindo minhas notícias.

Peço-lhes serenidade e conformação. A vida oferece a cada um de nós determinada porta de acesso ao mundo físico e para cada pessoa traça uma saída diferente… Sabe a lei de Deus porque me vi com a Cleide na hora extrema, descendo a profundidade de um rio quando nos acreditávamos no chão… Rogo à Mãezinha Alice não se afligir porque haja ficado a minha roupa encharcada no curso do rio, sem meios de voltar para alguma lavanderia… A verdade é que já nos encontrávamos fartos de tanta água e, decerto, por isso fui liberado da aflição de causar maior aflição à família… Um corpo físico de algum modo é semelhante à vestimenta. Ninguém suponha que isso seja um sinal de lástima. Volto em espírito aos meus entes amados e isso é o que me interessa.

Graças a Deus, com exceção das saudades, vou seguindo na recuperação necessária. Rogo aos pais queridos me auxiliarem com a certeza de que estou vivendo em outras dimensões da existência. Já sei que a nossa Maria Cristina tem feito grande progresso, organizando uma família nova e que Elisabete e Carmem não foram chamadas a Vida Espiritual como ocorreu comigo e com a Cleide e peço a Jesus para que tudo esteja reajustado em nosso ambiente familiar e nos grupos de nossos amigos. A Cleide foi acolhida por dedicados familiares dela e, de minha parte, inicio nova caminhada…

Mãezinha Alice, não chore mais por seu filho, embora não consiga ainda lembra-la sem que a saudade me aperte o coração, mas os nossos Benfeitores daqui nos auxiliarão…

Agradeço ao Papai Nelson o auxílio com que nos fortalece com seu valor de sempre. Um beijão à irmã querida. Ao irmão que se lhe fez o pai te um tesouro de carinho, com lembranças a todos os amigos. E para os pais queridos deixo nesta carta o coração reconhecido e esperançoso do filho que tanto lhes deve e que roga a Deus conserva-los felizes sempre de teu Né.

Abraços de muito amor e gratidão do Nelsinho”…

Nelson Castro Dantas

Até a próxima galera!!!